A Espada das Estrelas
- Weveson C. Oliveira
- 24 de jun.
- 12 min de leitura

Quando ele entrou todos ficaram em silêncio.
A Taverna do Zé Carlos não era um lugar dos mais bem
frequentados, beberrões e baderneiros passavam seu dia ali
em meio a conversas fiadas e gritarias, vomitando indecências e
toda sorte de impropérios. Seus frequentadores eram mais
fieis, muitas vezes, que as carolas que iam diuturnamente à
igrejinha de São Jorge no centro da vila. Aquele dia em
específico a Taverna estava relativamente calma. Manguinha
Tombador de Carroça discutia com Amauri Bom de Briga quem
tinha o dedão do meio mais cumprido, enquanto João Leonidas
viajava em suas fantasias cavaleirescas afirmando ser enviado
do Sol para salvar Diamantes da opressão da bruxa da Lua.
Num instante súbito todos se calaram como se sentissem uma
presença estranha chegando ao local. Passos foram ouvidos
vindo da rua e momentos depois as portas de vaivém rangeram
abrindo passagem para uma figura taciturna trajado com uma
longa capa verde musgo e botas sete léguas pretas. Nas costas
trazia um alaude adornado com entalhes florais e cordas
douradas. Uma penumbra caiu sobre a Taverna do Zé Carlos
que fez todos sentirem calafrios. Não havia uma mosca sequer
que não houvesse parado seu zumbido para assistir a sinistra
entrada do homem ao local.
Colocando seu Alaúde sobre uma das cadeiras, ele se sentou
pondo os pés sobre a mesa mais afastada e reclusa. Pediu uma
dose de cachaça e uma porção de torresmos. Sua face estava
quase que completamente encoberta pelo capuz, mas a julgar
pela barba com fios brancos o homem misterioso devia contar
uns quarenta anos de idade.
Ele ficou ali, por uma meia hora comendo e bebendo enquanto
todos o observavam. Amauri se aproximou timidamente do
homem com seu jeito todos destrambelhado e com a voz
embargada de cerveja balbuciou:
— Vo...vo... você é o tal Bardo Golias?
O encapuzado soltou um arroto digno do rugido de um leão
que fez todos tremerem de medo:
— Ele mesmo. —Respondeu o Golias removendo o capuz.
Sua pele era negra, com um brilho bronzeado, tinha um pircing
de argola sobre a sobracelha esquerda e uma tatuagem em
formato de serpente no pescoço, era corpulento, mas não ao
ponte de ser gordo, forte seria a palavra mais adequada. Sua
aparência inspirava medo e reverência. João Leonidas saiu aos
tropeços esbarrando em mesas e cadeiras ao encontro do
bardo, e como uma criança eufórica pediu para ele contar-lhe
uma de suas histórias. Golias ficou um tempo pensativo até
que respondeu que só o faria depois de mais uma dose de
cachaça. De graça. Após ser servido por Zé Carlos, ele sacou
seu Alaúde e começou a dedilhá-lo:
— Há muito tempo atrás, nas longínquas terras de
Diamantes...
O Jovem Ferreiro, como o próprio nome sugere, era um
jovem ferreiro, nascido e criado em Diamantes, filho de
Zezim Ferreiro e de Gil Mala, aquela que fugiu para África
com um negão da Tunísia. De palavras profundas e ações
gentis, era bem quisto por uns e vexado por outros. Não
estava tão fora dos padrões de beleza ou de comportamento,
mas também não era um Reinaldo Gianechini, o filho da
Dona Gema, que morava na rua do Zé do Dão, e era o terror
das novinhas de Diamantes. No dia de seu nascimento não
houve nada de especial: nenhuma flor de lótus brotou do
chão, nada de reis magos, ou mesmo serpentes foram
colocadas em seu berço. A única coisa relatável naquele dia,
é que enquanto o povo de Diamantes comemorava a
ascensão ao trono do Cavaleiro Azul, Gil Mala estava em
dores de parto pelo nascimento de seu suposto primogênito,
isso porque havia boatos de que ela tinha um outro filho com
o padeiro da vila, mas isso eram apenas boatos. O Jovem
Ferreiro nasceu forte e robusto como um leitão. Aprendeu a
falar cedo, e de mal engatinhando já sabia andar. Bem, o
importante é que aos dezessete anos ele desafiou seu pai,
pois desde a tenra infância era fissurado pelas corridas do
Speed-Jegue, um evento realizado na primavera onde os
aldeões de Diamantes montados em jegues, jumentos e
mulas saiam em disparada da Igreja de São Jorge até o cume
do Monte Minerva. Zezim Ferreiro, todavia, era
terminantemente contra que o jovem participasse da corrida:
— Mas pai, se você participava do Speed-Jegue, por que eu
não posso?
— Justamente, aquilo é uma insanidade. Quase matei Mula
Cará, e me matei participando dessa porcaria. Jurei que
nunca mais faria isso de novo!
— Mas pai, a jura é sua não minha! — exclamou o jovem
ferreiro em polvorosa.
"Taff". Zezim deu uma martelada com toda força na mesa da
bigorna, gritando "basta" com o filho. A forja onde
trabalhavam ficava na baixada da vila, um estabelecimento
não muito apertado, mas com espaço suficiente para guardar
toda sorte de peça e ferramenta fabricada ali desde os
tempos em que Vó Matriarca, mãe de Zezim, ainda botava a
mão no ferro. As paredes eram feitas de pedra e o teto alto
de madeira para circular o ar e suportar o calor do forno da
forja. Bem ao lado, rente parede com parede, ficava sua casa
e um pequeno estábulo onde eram guardadas Mula Cará e
um cavalo chamado Pangaré. Pai e filho viviam ali sozinhos
desde que Gil Mala foi para você sabe onde com você sabe
quem. O Jovem Ferreiro saiu da forja pisando duro e foi até
um pé de castanheira no final da rua onde costumava ficar
trepado quando criança. Perdido em pensamentos e afetos
contraditórios, tentava em meio a balbúrdia de sua mente
encontrar uma solução para seu dilema. Quando já era o cair
da tarde e o céu se vestia de tons alaranjados, ele teve uma
ideia relativamente astuta.
Na manhã do dia seguinte a multidão se aglomerou na praça
em frente a Igreja de São Jorge no centro da vila,
bandeirolas se suas janelas servindo de pesos para longos
lençóis bordados sob elas que balançavam ao sabor do
vendo. Tudo era cor e alegria. Os corredores do Speed-Jegue
já tomavam seus lugares para a corrida enquanto Frei Wilson
benzia os animais com água benta. Em meio a turba, Zezim
ferreiro encontrou-se com sua mãe, que estava
acompanhada da neta Riana:
— Sua bênção, minha mãe. — falou ele.
— Deus te abençoe, meu filho. Onde está seu menino?
— Deve ter ido para casa de algum amigo da escola, não o
vejo desde ontem a tarde.
O trajeto do Speed-Jegue não era dos mais seguros,
passando por vales, colinas e despenhadeiros a corrida
normalmente começava na parte da manhã e terminava
quando dia já estava escurecendo. Muitos eram os que
abandonavam a corrida pelo meio do caminho, quando não
acontecia de um jegue morrer ou quebrar a pata, como foi o
caso da Mula Cará. Jovem ferreiro conseguira um animal no
dia anterior ao da corrida, com um tal de seu Reginaldo,
pagara um preço um pouco salgado, que não foi dado em
dinheiro, se é que me entende. Mas para todos os fins estava
ali ele tacando-lhe pau na mula. Eram por volta de duzentos
corredores ao total, alguns mais experientes e outros ainda
aprendendo a arte de speed-jeguear.
A frente da tropa iam os maiorias Hudson e Bernardo, que
disputavam pelo pentacampeonato. Bernado havia feito o
tetra no ano anterior e Hudson no anterior do anterior. Os
dois quase sempre se matavam pelo Caneco de Diamante,
prêmio dado ao vencedor do Speed-Jegue. Jovem ferreiro
havia largado numa posição mediana, entre o centésimo e o
centésimo quinquagésimo colocados, mas vinha perdendo
posições conforme avançava. Nas curvas da estrada da
fazenda Engenho Novo ele quase foi derrubado por outro
corredor que ao tropicar com o jegue numa pedra levou com
consigo outros quatro que vinham a frente. Quando
chegaram no vale da Saudade, ao cruzarem a ponte, os
corredores seguiram em fila indiana, permitindo que o Jovem
Ferreiro ganhasse duas ou três posições. No Córrego de
Areia que não era de areia, mas era um córrego, não
aconteceu nada de relevante, só mencionei esse lugar, pois
foi lá que Vó Matriarca e Zezim Ferreiro Nasceram. Ao
chegarem, contudo, nos Alpes de Diamantes, ocorreu uma
catástrofe. Um deslizamento de terra jogou vários jegues
morro abaixo, entre eles o Jovem Ferreiro.
Um forte zumbido era tudo que se podia perceber num
primeiro momento, a visão completamente turva se
associava a uma confusão mental que beirava o delírio.
Conforme foi recobrando os sentidos, o Jovem Ferreiro
apoiou as mãos no solo para tentar levantar sem saber ao
certo onde estava em cima e em baixo, esquerda e direita.
Após fazer força para ficar de pé notou que uma se suas
pernas estava presa sob sua mula.
Aquilo lhe renderia uma ferida, que o faria manco pelo resto
da vida, chamada pelos seus de Estigma de Jacó. Com muito
custo, o Jovem Ferreiro pô-se de pé e também a sua mula,
mas não havia sido só ele que machucara a perna. Oh, sina
de que tanto cantam os bardos e menestréis, como pode o
pai chupar uva azeda e o filho ficar com os dentes podres? O
filho de Zezim não podia acreditar naquilo, melhor fosse que
perdesse sua própria perna a ver a história de seu pai se
repetir com ele mesmo. "Speed-Jegue é loucura, nunca
participe desse disparate! Quase morri fazendo isso, não
quero para você a mesma decepção que tive. Só ganham o
Caneco de Diamante os que já nasceram para ser campeões
e nós somos ferreiros, meu filho, não heróis!". A voz de seu
pai ecoava-lhe na cabeça, mais forte que o zumbido de mil
pernilongos. O Jovem Ferreiro prostrou-se no chão de
joelhos, e com um grito retumbante que lhe escapou do
fundo da alma extravasou toda sua raiva e indignação contra
os céus. Aos prantos ele se pôs de pé novamente, com
cuidado para não forçar a perna direita que lhe provocava
uma dor lancinante naquela situação. Com dificuldade puxou
sua mula manca pelo arreio até a estrada no alto do morro e
montou-lhe. A passos de tartaruga os dois retomaram o
trajeto do Speed-Jegue.
Ao cair da tarde, quando muitos corredores já tomavam o
caminho de volta para a Igreja de São Jorge, o Jovem Ferreiro
finalmente avistou, ao longe, o monte Minerva. Um grande
platô como que se o pico de uma montanha fosse cortado
com uma lâmina pelas próprias mãos do Criador,
formando uma mesa de pedra em meio às colinas que
cercavam Diamantes. A visão era realmente deslumbrante:
uma fina camada de nuvens cercava o monte próximo do
topo, qual uma vigem vestida de véu às vésperas de seu
casamento. Segundo as lendas, fora ali, há mais de
quinhentos anos, que o Cavaleiro Que Nunca Morre,
fundador de Diamantes, também conhecido como Cavaleiro
Cinza, firmara um pacto com os povos feéricos, formando
uma aliança contra os trolls que aterrorizavam aquelas
terras. O filho de Zezim, suspirou fundo e sentiu seus olhos
se encherem de lágrimas. Seria um dos últimos a terminar a
corrida, mas do que importava, ele estava ali diante daquela
maravilha da natureza, cheio de orgulho por superar a
desastrosa queda nos Alpes, e ainda que ferido, estava de pé.
Mais do que ser campeão, sua meta era completar a corrida.
É como sempre diz Vó Matriarca: "Ovo de pata que galinha
choca faz o galo estranhar o vizinho".
Conforme nosso herói caminhava em direção ao Monte
Minerva, a escuridão cobria as montanhas e o céu se
pontilhava de estrelas. Já na estreita e íngreme trilha que
levava ao seu topo ocorreu algo extraordinário, que ninguém
pode testemunhar além do próprio Jovem Ferreiro. Uma
estrela se desprendeu da abóbada celeste e desceu em
direção à terra, deixando um clarão azulado de rastro céu. O
rapaz ficou, ao mesmo tempo, apavorado e extasiado com
aquela visão. Nunca ouvira falar de algo semelhante. Seria
alguma forma de magia ou de bruxaria? Ou, talvez, o
apocalipse estava chegando em Diamantes,
com se dizia nas sagradas escrituras! Apertando o trote da
mula manca, seguiu o mais rápido que pode em direção ao
local da queda do astro sobre o platô. Uma pedra perfurada
como um queijo suíço, de aparência de brilho metálico,
exalando forte odor de enxofre, repousava no interior de
uma cratera com cerca de oito metros de diâmetro. Ao se
aproximar do objeto, o Jovem Ferreiro sentiu uma leve
tonteira, seus pensamentos parecerem se anuviar e vozes
confusas sussurraram em sue ouvido dizendo melodiosamente: "tomai-nos, e forjai-nos, tomai-nos e forjai-
nos..."
***
— Mas que diabos é isso!?
Exclamou Zezim Ferreiro ao ver o filho entrar em sua oficina
com um meteorito metálico nos braços, fazendo com que o
sermão que elaborara em sua cabeça para lhe dar quando
chegasse se anuviasse numa sombra de ideias desconexas. Já
era por volta de meia-noite quando nosso herói retornou do
Speed-Jegue, seu pai o esperara acordado todo o tempo
enquanto forjava alguns objetos sem muita utilidade. Ele
sempre fazia isso quando estava aborrecido ou preocupado
com alguma coisa, houve vezes de virar a noite batendo
martelo na forja para incômodo dos vizinhos. Colocando o
objeto celeste sobre a mesa, o Jovem Ferreiro falou com
empolgação:
— Eu vou forjar uma espada!
Seu semblante, apesar de nitidamente exausto pelos
contratempos da corrida, esboçava uma alegria incomum,
que há muito tempo Zezim não via nos olhos do filho. Seu
sorriso peralta continha um ar estranho, um tanto obcecado,
que parecia não conversar muito com o resto do corpo, de
modo que fazer uma leitura dedutiva do que se passava na
cabeça do filho era algo um tanto impreciso:
— Mas para que você quer uma espada, homem de Deus.
Você nunca teve gosto em botar a mão no ferro, o que te deu
para que de uma hora para outra, a essa hora da noite, você
querer forjar uma espada?
— Vai, ou não vai, me ajudar a forjar minha donzela?
"Pelas obras de Dom Orione e Nossa Senhora dos Pretos",
pensou Zezim. Era só o que faltava esse menino estar
pensando em forjar uma espada para entrar para a guarda
da vila, onde já se viu chamar uma espada de donzela, isso
era costume entre os guerreiros e cavaleiros de Diamantes.
Mas antes de repreender o filho, sentiu-se divido, pois seu
maior sonho era conseguir despertar no filho a paixão pela
forja de metais, e aquele momento parecia finalmente ter
chegado, não podia deixar passar aquela oportunidade, além
do que as muitas interrogações que sempre lhe fazia podiam
desanimar-lhe naquele momento glorioso de empreender tal
façanha.
Uma espada longa foi o modelo escolhido pelo nosso herói,
uma arma de cinquenta polegas de comprimento própria
para combate corpo a corpo.
Enquanto o filho salpicava o meteorito em pedaços menores,
Zezim aquecia a forja à temperatura de fundição. Apesar do
pai mais uma vez estar ali transmitindo todo seu
conhecimento, o filho parecia como que completamente
disperso. O jovem que saíra na largada do Speed-Jegue não
era o mesmo que havia retornado para aquela humilde casa
na Baixada de Diamantes. Depois de elevarem o material do
meteorito à temperatura de fusão eles o escorreram
cautelosamente para que a escória não se misturasse ao
metal líquido e a assim preencheram o molde da lâmina. O
brilho incandescente do ferro reluzia nos olhos do Jovem
Ferreiro como uma sombra de insanidade. Depois que o
metal solidificou, eles o imergiram na água e o martelaram
na mesa da bigorna até atingir o formato desejado. Poliram
os gumes com o esmeril deixando-os cortantes como
obsidiana. Em não mais que quatro horas de trabalho duro, a
espada estava pronta com cabo, bainha e cinta.
— E agora? — perguntou Zezinho para o filho, querendo
saber o que faria já que tinha a tal espada em mãos.
— Agora eu não sei, meu pai, só sei que estou pronto para
encarar meu destino. Antes eu ia sem saber para onde, agora
sei que estou indo para algum lugar.
Vovó Matriarca sempre dizia que não se cria filhos para o
mundo, o mundo é quem cria filhos para gente.
E Zezim ferreiro constatava que aquilo era a mais pura
verdade. Seu menino já não era nem mais um menino, nem
era mais seu. Quando Gil Mala descobriu que estava grávida,
Zezim encheu-se de alegria e também de pavor.Passou a
trabalhar dobrado na forja, já que então teria mais uma boca
para alimentar. Vó Matriarca e a ex-mulher trabalharam um
mês inteiro da confecção do enxoval da criança. No dia do
chá de bebê a família se reuniu em casa de Vó Matriarca para
comemorar a vindoura chegada do novo membro, eram
tempos difíceis aqueles nos quais a autoridade do então
senhor de Diamantes, o Cavaleiro cinza era desafiada por
uma coalizão liderada pelo cavaleiro Azul e o Cavaleiro Verde.
Naquele dia em específico, estourou uma revolta popular na
baixada, em que muitos cidadãos atacaram guardas da
cidade em protesto contra o Cavaleiro cinza, o evento tomou
tão grandes proporções, que muitas casas foram invadidas e
queimadas inclusive a de Zezim Ferreiro, que saiu as pressas
da cidade alta montado na mula Cará, que não estava nem
tão apressada, para ver o tamanho do estrago assim que
recebeu a notícia dos seus vizinhos: o telhado de sapé estava
todo destruído e os itens da forja que não foram saqueados
estavam espalhados pelo chão, o forno completamente
danificado, janelas quebradas e portas arrombadas. O destro
ferreiro agachou-se no chão e chorou, coisa que não fazia há
muito tempo. Colocando a mão por dentro da camisa,
segurou firmemente a medalha de Dom Orione e fez uma
prece, não pediu por clemência ou por misericórdia, mas por
justiça. Cavaleiro Cinza devia cair, e aquilo, por mais doloroso
que fosse, era um sacrífico necessário.
Quando os demais familiares chegaram, ele já havia se
recomposto, e começaram a trabalhar na arrumação. Gil
Mala tratou de ficar o resto da semana em casa de Vó
Matriarca até que tudo estivesse em ordem, e também para
a segurança do bebê. Aquele dia não foi reles um incidente,
foi como que um presságio, um augúrio, das grandes
façanhas às quais a criança estava destinada a realizar, pois
as coisas são assim mesmo. Quanto um homem comum se
torna um mito, todas as ocorrências de sua vida se tornam
obra do destino, e qualquer serendipidade, por mais trivial
que seja, um sinal da algo maior.
Zezim Ferreiro foi dormir aquela noite com uma dupla
sensação: ao mesmo tempo que parecia ter cumprido seu
dever, temia por ter dado ao filho a arma que o faria sair
debaixo de suas asas e voar para longe. Laisa, esse era o
nome que ele escolhera para sua arma, a Espada das
Estrelas.
FIM





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